Sete a dez crianças vítimas de violência sexual são atendidas diariamente no Hospital Esperança, em Luanda, para fazer exames periódicos e profilaxia do HIV/Sida e outras doenças de transmissão sexual. Uma vergonha que a todos atinge e que deve ser combatida por todos.
Os dados foram avançados, nesta quarta-feira, pelo coordenador-geral da instituição, António Feijó, no final da visita dos secretários de Estado da Saúde e da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Manuel Vieira Dias e Ruth Mixinge, respectivamente.
Dados do Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLS) indicam que o nível de contágio de HIV em Angola é estimado em 310 mil pessoas vivendo com a doença, das quais 190 mil são mulheres, muitas delas em estado de gestação.
No país, cerca de 70 por cento das pessoas infectadas só se dirigem às unidades hospitalares quando estão com sinais e sintomas muito evidentes da doença, o que revela falta de cultura de fazer o teste com antecedência.
A taxa de abandono da medicação é de 54 por cento e o número de óbitos, em 2017, rondou os 13 mil, de acordo com os últimos dados da ONUSIDA.
Segundo o responsável, as crianças e adultas vítimas de abuso sexual são acompanhadas por técnicos treinados que prestam assistência psicológica e medicamentosa, umas levadas pelos oficiais do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e outras por familiares.
António Feijó considerou preocupante o número de casos, pois acarreta uma carga psicológica que a criança ou adolescente pode levar ao longo da sua vida.
Preocupada com esta situação, a secretária de Estada da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Ruth Mixinge, disse que se deve criar uma rede entre os ministérios da Saúde, do Interior e as administrações municipais no sentido de sensibilizar cada vez mais as famílias, criando condições nas comunidades para se eliminar este mal.
“Assusta-nos o número elevado de crianças que sofrem violência sexual e que acorrem a esta instituição para serem atendidas e medicamentadas, uma situação que mudar com acções na família ”, ressaltou.
Salientou que se deve trabalhar também na sensibilização das famílias, para reduzir a discriminação e o estigma aos doentes com HIV/Sida, de modo a que estes não desistam da medicação.
E para fazer face a esta situação, o Ministério da Família fez a entrega de bens alimentares à direcção do Hospital Esperança, para colmatar a necessidade de pacientes vulneráveis que muitas vezes desistem de fazer a medicação por falta de alimentos.
Foram cadastrados os beneficiários que passarão a receber uma prestação alimentarem constituída por bens de primeira necessidade (arroz, óleo, açúcar, sabão e outros bens).
Ruth Mixinge referiu que esta prestação de alimentos também já é feita com pacientes renais adstritos ao Hospital Américo Boavida, doentes do Hospital Sanatório e do Josina Machel, fruto de um acordo entre os dois ministérios na área de assistência social.
O Hospital Esperança, inaugurado a 2 de Março de 2004, para além de fazer consultas e oferecer medicamentos aos pacientes, dá também apoio psicológico e conselhos contínuos, bem como realiza visitas domiciliárias a pessoas vivendo com HIV/Sida aos fins-de-semana.
Está vocacionado ao atendimento médico-medicamentoso, aconselhamento, capacitação de quadros de outras unidades que atendem casos dessa pandemia e consultas de adesão que assegura o sucesso da terapia e supervisão.
Para além do Hospital Esperança, o país conta com oito unidades para atendimento dos pacientes, por ser uma componente urgente e de emergência, para se dar a possibilidade das vítimas de abuso sexual terem o tempo útil, que é de 72 horas, de serem atendidos profilacticamente e evitar que a transmissão seja fruto da violação e de outras infecções, inclusive das gravidezes indesejadas.
Já em Maio de 2016 o aumento de meninos de rua em Angola preocupava, pelo menos oficialmente, o Instituto Nacional da Criança (INAC), que enquadrava o fenómeno nas questões ligadas à violência contra menores.
Sem avançar números, a chefe do serviço provincial de Luanda do INAC, Ana Silva, disse que aumentam os focos de meninos de rua em Luanda, facto que atribui maioritariamente ao fraco poder aquisitivo das famílias.
Ah! Estamos mais próximos da verdade. Pais com fome, sem emprego, doentes… filhos na rua à procura de subsistência.
“Temos hoje um acréscimo de meninos nas ruas, coisa que há dois ou três anos já não era visível, mas hoje temos focos de meninos de rua a aumentar”, frisou a responsável, acrescentando que é igualmente elevado o número de crianças com desvios comportamentais.
Ana Silva, que então falava no âmbito das jornadas comemorativas do Dia Internacional da Criança, apontou ainda como preocupações a fuga à paternidade, o abuso sexual de menores e a negligência das famílias para com as crianças.
“Ultimamente, as famílias têm negligenciado muito em questões de protecção à criança, relegam esta protecção dos filhos, da responsabilidade que têm em relação às crianças a terceiros e até às próprias crianças”, lamentou.
O trabalho infantil continua a constituir preocupação, sobretudo no sector informal, na área do comércio, disse Ana Silva, onde as crianças servem de mão-de-obra para o transporte de mercadorias, para a limpeza, nos mercados, entre outras tarefas inadequadas.
“Nós ainda há tempos, estivemos a fazer um levantamento e há dois anos também já tínhamos chamado atenção para esse facto, por isso temos programadas várias actividades de consciencialização dos vendedores a nível dos mercados”, salientou.
Segundo Ana Silva, a situação da criança é muito preocupante e os problemas citados juntam-se ainda à falta de acesso às escolas e ao registo de nascimento. Ou seja, as crianças reais do país real não são familiares dos donos eméritos do país.
“Ainda temos alguns problemas neste sentido, que muitas vezes não tem nada a ver com a falta de estruturas, mas sim com as próprias famílias, que não têm disponibilidade e informação”, afirmou.
Folha 8 com Angop